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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tomahawk brute de forge

Está saindo mais um tomahawk, uma encomenda.
O pedido foi que fosse um tomahawk com aspecto rústico, brute de forge.
Então estou postando algumas fotos da confecção para aos poucos mostrar o nascimento dessa peça.
Essa aqui é uma barra de aço 1060 que foi previamente furada para facilitar a furação do olho
Aqui já a peça estrangulada dos dois lados onde será o martelo e a lâmina, com o olho já começado

Aqui já com o olho mais aberto, quase no ponto para partir para o forjamento da lâmina




Início do forjamento


Lâmina esticada



Início dos desbastes




Finalizada










Agora em preto e branco











sábado, 16 de novembro de 2013

Tenazes, porque não forjá-las?

Eu gostaria de começar esse assunto dizendo o quão triste eu fico quando vejo cuteleiros fazendo suas tenazes a partir de turquesas, alicates e outras ferramentas. É compreensível quando o cuteleiro é iniciante, senão não vejo motivo para isso. Inclusive é uma ótima maneira de se aprender a forjar, aprender a esticar, alargar, dobrar, curvar, arredondar, furar a quente, etc.
Forjar é uma arte e requer habilidade, e habilidade vem pela prática, pelas repetições, pelo dia a dia de determinada atividade.
Acredito que quem forja uma faca deve forjá-la até ficar 90% do que vai ser no final. Infelizmente eu já vi pessoas, que se dizem cuteleiros, forjarem um pedaço de aço que no final parecia uma casca de banana atropelada!! E depois essa peça ia ser toda recortada, pra depois ser lixada, as vezes desempenada a frio(pois é pasmem), e por aí vai... Aí eu pergunto: por que não desbastou logo ao invés de fingir que ia forjar pra desbastar do mesmo jeito no final?
Não estou escrevendo isso para desmotivar nem para diminuir ninguém, até mesmo porque eu não citei nomes. Mas acredito que o cuteleiro/ferreiro deva fazer suas próprias ferramentas. Não é difícil e ainda por cima lhe aumenta a habilidade, pois a cada tenaz/marreta/etc que se forja sua pratica com a bigorna e marreta fica mais aguçada.
Eu procuro forjar minhas tenazes, marretas e o que mais precisar. No começo eu quase morria pois tudo o que eu não queria fazer eu fazia, levava o aço pra onde ele não deveria ir, afinava onde não poderia ficar fino, onde era pra ser redondo eu acabava deixando meio quadrado... Eu sofria!! kkkkkk... Mas era bom, pois me lapidava e hoje consigo fazer o que quero com o aço.
Vira até um vício se não tiver controle, o domínio sobre o metal gera uma dependência. Já vi um velhinho numa cama na casa dele, bem doente, e do lado estava a bigorna com as tenazes, ele precisava vê-las, tocá-las, mesmo não tendo força nem pra levantar a mais leve. Ele falou muito sobre isso, pra eu ter controle pois a vontade de forjar sempre aumenta e você se pega querendo forjar qualquer coisa toda hora, inventando motivo pra forjar!
Bom como já disse forjar tenazes é fácil, as vezes eu forjo as cabeças primeiro, forjo de molas, mas não faço têmpera, depois soldo os cabos de aço de barra cilíndrica de aço 1045, outras vezes eu forjo elas inteiras de mola cilíndrica, endireito, estico o que serão os cabos e depois forjo os olhos pra finalizar forjando os mordentes.
Creio que um cuteleiro precisa ter umas vinte tenazes, cada uma para cada tipo de pegada: quadrada, chata, redonda, essas mesmas mais finas, mais grossas, maiores, menores, uma própria pra forjar tomahawk, pra forjar marreta.... uma para cada situação, afinal uma tenaz dura muito tempo e vale a pena fazer quantas forem necessárias para o dia a dia.
Essas fotos abaixo são de duas que fiz recentemente. Na base do cabo eu forjei uma trava de argola, muito boa para evitar acidentes.
Esses vídeos mostram como é fácil forjar uma tenaz, use um aço mais macio, não precisa ser 5160. Peça ajuda a um amigo(corajoso) é muito mais fácil forjar a dois, é muito mais rápido.

Reportagem sobre cutelaria artesanal

Reportagem muito interessante com três cuteleiros brasileiros mostrando algo sobre a história da cutelaria e alguns processos artesanais de confecção de lâminas.

Mitos e manutenção das facas

Hoje gostaria de conversar com vocês sobre alguns mitos que povoam o universo da cutelaria e atos simples que farão com que sua lâmina conserve-se afiada e íntegra por muitos anos. Vamos começar pela conservação, partindo do princípio de que poderemos ter facas em aço carbono, aço inoxidável e aço damasco.

O aço carbono é o mais antigo ,aquele que enferruja,utilizado pelos cuteleiros artesanais nas facas forjadas. É excelente material, apresenta uma retenção de fio duradoura, ótima dureza e requer poucos cuidados. Após o uso, lave sua faca em água corrente e sabão, usando a parte macia da esponja, que é o lado amarelo. O lado verde é inimigo da sua faca, por ser um abrasivo e "cegar" a faca em poucas passadas, Nunca passe o lado verde no fio, evite de usá-lo. Após isso, seque bem e guarde sempre fora da bainha. O tanino do couro atinge o aço carbono, manchando e enferrujando a lâmina. Use a bainha apenas para transporte, nunca para armazenar a faca. O aço damasco é como o aço carbono, sendo ainda mais suscetível aos riscos do lado verde da esponja, que irá remover pouco a pouco o padrão do damasco(o desenho). Se for guardar por algum tempo e no caso de locais úmidos, passe com um pano limpo (e seco) ou algodão óleo mineral(compre em farmácia) evita qualquer risco de oxidação,além de não ser tóxico. Já o aço inox é o que exige menos manutenção, por ser mais resistente à oxidação. Basta lavar com água e sabão, usando o lado macio  da esponja e secar bem.

Para manter sua lâmina afiada, vamos recordar alguns princípios básicos de conservação:


Nunca corte sobre um prato de vidro, cerâmica, louça, pia de mármore, aço ou tábua de vidro. Esta última, aliás, deve ter sido inventada pelos fabricantes de afiadores, chairas, etc. Estes materiais são mais duros que o aço e irão arredondar o fio dado pelo cuteleiro, que é agudo e acaba "em zero". E uma vez arredondado, começa a apresentar dificuldades para o corte, sendo necessário o uso de chaira, pedra, lixa ou outra ferramenta abrasiva para reafiar ou reassentar o fio. O amigo churrasqueiro deve evitar de atritar a faca no espeto. Exiba sua habilidade cortando a carne, não o espeto! Na hora de tirar a carne do espeto use o dorso da faca ou um garfo. Observe o ângulo para reafiar, incline a lâmina entre 10 e 15 graus na chaira ou pedra fina, assim respeita-se a geometria de fio.

E desmistificando o tema, não existem aços ou tratamentos térmicos(a famosa têmpera) secretos. Trata-se de metalurgia, nada mais. Cada aço tem seu ponto de forja e de têmpera. O cuteleiro profissional conhece cada um deles. Forjar à luz da lua, voltado para o norte, temperar em sangue de bode.....são lendas vindas de um tempo pré internet, hoje estas informações estão à disposição de todos. Cortar cebola não tira o fio da faca senão cortar limão derreteria a lâmina, pois este é bem mais ácido que a cebola, concordam? O que acontece é que para cortar cebola a faca deve estar afiada,o que mostra a qualidade da faca e de sua retenção de fio. Ao cortar a cebola e encher o rosto de lágrimas a pessoa o faz com pressa e em cima de qualquer lugar, eu já vi gente fazer isso dentro da pia de inox, que fio suportaria isso?? Lavá-la com água quente não "destempera" a lâmina. Lembre de que ela foi forjada a mais de 800 graus, em média. Não será a água quente que irá estragá-la.

Um abraço a todos e até a próxima conversa afiada!


Adaptado de: http://www.asboascoisasdavida.com.br/site/content/coisasboas/?idCat=7&idNoticia=233